Idosos X Saúde: Por que eles consomem mais sinistro?

À medida que a população envelhece, cresce também a preocupação com os custos dos planos de saúde para idosos. Não é raro encontrar famílias surpresas com o valor elevado das mensalidades e com a frequência de uso dos serviços médicos por parte dos mais velhos. Mas, afinal, por que os planos de saúde para idosos são mais caros? Quais fatores culturais influenciam esse cenário? E como podemos transformar a relação dos idosos com a prevenção em saúde? Neste artigo, vamos abordar essas questões de forma clara, trazendo informações relevantes para profissionais, familiares e para o próprio público idoso.

Por Que os Planos de Saúde para Idosos São Mais Caros?

Antes de tudo, é preciso compreender que o valor dos planos de saúde é calculado com base em riscos e custos operacionais. No caso dos idosos, as operadoras consideram que, com o avançar da idade, há um aumento significativo na demanda por consultas, exames, internações e tratamentos de maior complexidade. Doenças crônicas como diabetes, hipertensão, problemas cardíacos e demências tornam-se mais frequentes, exigindo acompanhamento contínuo e, muitas vezes, intervenções de alto custo.

Além disso, a legislação brasileira permite reajustes por faixa etária, sendo o aumento mais expressivo a partir dos 59 anos. Esse reajuste reflete não apenas a expectativa de maior uso dos serviços, mas também a necessidade de garantir a sustentabilidade financeira das operadoras diante do envelhecimento da população. Portanto, quanto maior a idade, maior o valor do plano, pois cresce a probabilidade de uso intensivo dos recursos de saúde.

Outro aspecto importante é a complexidade dos tratamentos. Idosos com múltiplas doenças ou condições de saúde debilitadas tendem a receber prescrições mais complexas, o que aumenta o risco de efeitos adversos, internações e necessidade de suporte especializado5. Esse ciclo eleva ainda mais os custos para as operadoras e, consequentemente, para os beneficiários.

O Consumo Elevado de Recursos de Saúde

Não é apenas o preço do plano que aumenta. O consumo de recursos de saúde pelos idosos é, de fato, mais elevado. Eles realizam mais consultas, exames, internações e procedimentos do que outras faixas etárias. Além disso, a recuperação costuma ser mais lenta, exigindo reabilitação, fisioterapia e acompanhamento multiprofissional.

Outro fator é o diagnóstico tardio de doenças graves. Muitas vezes, os idosos só procuram o serviço de saúde quando já apresentam sintomas avançados, o que dificulta o tratamento e aumenta a necessidade de intervenções complexas. Isso ocorre, em parte, devido a uma questão cultural profundamente enraizada.

A Influência da Cultura: O Hábito de Procurar o Médico Só Quando Está Doente

Historicamente, a geração que hoje compõe a população idosa foi ensinada a buscar o serviço de saúde apenas quando os sintomas se tornam incômodos ou incapacitantes. Esse padrão cultural, transmitido de geração em geração, contribui para o diagnóstico tardio de doenças como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares e demências.

Além disso, muitos idosos cresceram em ambientes onde o acesso ao serviço de saúde era limitado e a automedicação era comum. O cuidado preventivo, as consultas regulares e os exames de rotina não faziam parte do cotidiano. Como resultado, doenças silenciosas evoluem sem serem percebidas, aumentando a gravidade dos quadros e a complexidade dos tratamentos necessários posteriormente.

Essa cultura do “tratar quando dói” abre margem para a progressão de doenças que poderiam ser controladas ou até evitadas com ações preventivas. O impacto disso não é apenas individual, mas coletivo, refletindo-se nos custos do sistema de saúde e na qualidade de vida dos idosos.

O Desafio de Ensinar Prevenção ao Público Idoso

Diante desse cenário, surge um grande desafio: como ensinar prevenção a um público que, durante toda a vida, foi condicionado a buscar ajuda apenas diante da doença? A resposta passa por estratégias educativas inovadoras, empatia e respeito à história de vida dos idosos.

Primeiramente, é fundamental reconhecer que as práticas culturais de cuidado à saúde são construídas ao longo do tempo e influenciadas por valores, crenças e experiências familiares. Portanto, ações educativas devem ser participativas, dialogadas e adaptadas à realidade do idoso. O profissional de saúde, especialmente o enfermeiro, precisa atuar como facilitador, ouvindo, acolhendo e valorizando o saber popular.

Além disso, a educação em saúde deve ir além da simples transmissão de informações. É preciso criar espaços de troca, onde o idoso possa compartilhar experiências, tirar dúvidas e se sentir protagonista do seu cuidado. Grupos educativos, rodas de conversa, atividades lúdicas e programas que envolvam família e comunidade são exemplos de estratégias eficazes.

Outro ponto importante é trabalhar temas que façam sentido para o idoso, como alimentação saudável, prática de atividade física, autocuidado, prevenção de quedas e manejo de doenças crônicas. Atividades práticas, como caminhadas em grupo, oficinas de culinária saudável e sessões de alongamento, tornam o aprendizado mais leve e aplicável ao dia a dia.

Estratégias para Mudar o Cenário

Para transformar a relação dos idosos com a prevenção, algumas estratégias se mostram especialmente eficazes:

  • Educação em Saúde Personalizada: Desenvolver programas educativos que respeitem a cultura, o ritmo e as necessidades do idoso, utilizando linguagem acessível e exemplos práticos.
  • Envolvimento Familiar: Incluir familiares nas ações de saúde, promovendo o apoio mútuo e a continuidade dos cuidados em casa.
  • Promoção do Autocuidado: Incentivar o idoso a monitorar sinais e sintomas, realizar exames preventivos e adotar hábitos saudáveis de forma autônoma.
  • Ações Comunitárias: Organizar eventos, palestras e atividades em grupo, fortalecendo o senso de pertencimento e a troca de experiências.
  • Acesso Facilitado aos Serviços: Garantir que o idoso tenha acesso fácil a consultas, exames e orientações, reduzindo barreiras geográficas, financeiras e de comunicação.

Em resumo, os planos de saúde para idosos são mais caros devido ao maior uso dos serviços médicos, à complexidade dos tratamentos e ao risco elevado para as operadoras. A cultura de procurar o médico apenas diante da doença contribui para diagnósticos tardios e tratamentos mais complexos, elevando ainda mais os custos e dificultando a promoção da saúde.

No entanto, é possível mudar esse cenário por meio de educação em saúde, estratégias participativas e valorização do idoso como agente ativo no cuidado. Investir em prevenção, promover o autocuidado e respeitar a cultura são caminhos para garantir qualidade de vida, autonomia e um envelhecimento saudável para todos. Se você é profissional de saúde, familiar ou idoso, comece hoje mesmo a transformar sua relação com a prevenção – sua saúde agradece, e o sistema de saúde também.

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